Síndrome de João Batista



MAIS UM DIA NA VIDA DO PROFETA


Começa mais um dia na vida do profeta, oração feita pela madrugada e com o cajado na mão, aparece, ao nascer do sol, mais uma oportunidade para o homem do deserto dar continuidade ao seu ministério.
Quem é ele? Ao lado do rio Jordão, sob o som de uma orquestra de pássaros, um homem estranho, vestido de peles de animais, cabelo em desalinho, corpo rústico, pele queimada pelo sol, pegadas firmes sobre a terra seca cheia de torrões maltratada pelo ardor escaldante do deserto.
Enquanto o vento sibilante soava por entre as árvores, a poeira seca subia atrás do profeta. Com passos largos e ligeiros, como de alguém que tem pressa, ia deixando o chão pelo caminho, enquanto se dirigia mais uma vez ao rio Jordão, seu local de rotineiras atividades proféticas.
Ao se aproximar daquelas águas que se confundiam com a própria história de Israel, o ar se tornou mais leve e a brisa mais suave vinha dar as boas-vindas para mais um dia de labor, suavizando o ar pesado e quente, enquanto acariciava a face serena e marcante daquele que anunciava a vinda do Messias de Israel. Enquanto caminhava, sussurrava os cânticos do povo do deserto, saudando o mestre de Justiça1:
Bendito sejas, Deus da misericórdia e da graça.
Pela Tua clemência, pela riqueza do Teu ser,
Pela farta bondade Tua.
Em todas as Tuas obras!
Alegra, com o dom de Ti,
Os que nesta posse única,
Moderado o peso do Teu Reino experimentam.
Purifica-me em Tua justiça,
Pois que, temperada com Tua bondade,
Dela espero lenida a minha pena.
Confiança tenho em Tua benevolência.
Com Teus perdões,
Minha expiação minorada o foi.
Meu tormento o suportei em Teu conforto.Ao caminhar, lembrava-se dos perfeitos, conselho da Comunidade composta de doze homens e três sacerdotes, que o aceitou como membro da comunidade. Quando criança, o grupo o recebeu como postulante, depois como irmão ou membro definitivo e sempre assistido por um perfeito. Quantas lições tiveram que aprender para domar sua natureza impulsiva.
Sistematicamente, depois de cumprirem os ritos matutinos, colocavam-se a ensinar os significados mais profundos da lei. O assunto principal era sempre sobre a vinda do Mestre de Justiça, Sacerdote, Profeta e Rei que conduziria o povo de Israel no caminho da purificação, destituiria os Saduceus de sua posição usurpada, expulsaria os romanos e novamente Israel seria a noiva pura de Jeová.
Suspirava fundo enquanto tomado de impulso forte pronunciava as palavras dos hinos encontrados mais tarde nos manuscritos do mar Morto.
Caminhando debaixo de sol matutino e forte, declamava frases sagradas, enquanto que sua face era molhada ao nascerem as lágrimas justas: "Eu creio com fé completa que todas as palavras dos profetas são verdadeiras." Ah!, se não fosse uma chamada do Senhor, ele estaria entre o povo do deserto cantando as esperanças e aguardando a vinda do Messias, mas o dever o chama e o caminho do Justo tem de preparar.
Os passos se apressam como quem tem hora marcada, e tem! Seu compromisso é consigo mesmo, com a convicção de que anuncia a vinda do Mestre de Justiça, o tempo urge, não espera ninguém, quem se cansa jaz à beira do caminho e o profeta anda.
Os olhos vislumbram ao longe a multidão que espera, afoita, ansiosa, rebelde e temente. Uma voz ecoa do peito sofrido do homem estranho: "Arrependei-vos porque é chegado o Reino dos Céus".
Principiou seu discurso, enquanto a multidão se aglomerava à margem do rio. Quem é ele? Pergunta um desavisado transeunte. Quem é esse homem aparentemente estranho, de barbas e cabelos longos? Com ar de espanto, a resposta vem certeira: é João, o Batista, aquele que prepara o caminho do Servo do Senhor. Não o conhece?
Com esta pergunta, convido você a mergulhar nesse mundo intrigante, curioso e revelador – a vida desse profeta maravilhoso, mas humano que, como tal, deixa transparecer as fraquezas de um homem que é fruto do seu tempo.
Estudar João Batista é nos conduzir à arena das limitações humanas onde, na fraqueza, descobrimos que somos amados não pelo que podemos oferecer a Deus, mas pelo Seu amor que nos alcança e nos aceita no auge dos nossos fracassos.
Não somos inferiores a João, pois o menor no Reino dos Céus é maior do que ele, Mt 11.11. Por outro lado, não somos maiores também, pois nossos fracassos estão diante de nós. Nem maiores nem menores, somos feitos de terra vermelha e, tal qual Adão, dela tirados. Como homens, podemos nos considerar fruto do nosso tempo, sujeitos às glórias e às derrotas; caminhamos na mesma estrada e a história se repete cada dia, tornando-nos parte integrante da dinâmica que palmilha esta vereda.
Quero caminhar com você por esse caminho e, caminhando, reviver a vida e o ministério desse profeta, aprender sobre a fragilidade humana e o princípio de autoridade que rege os mundos visível e invisível.
Venha comigo, aprendamos juntos e, aprendendo, vamos construir nossas histórias como membros ativos e dinâmicos do Reino dos Céus.
Ele é João Batista, você o conhece?



Esse texto faz parte da introdução do livro "Síndrome de João Batista". Autor: Gilmar Matias.


Você pode adquiri-lo por esse site ou na Livraria Primícias em Goiânia.

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